segunda-feira, 7 de abril de 2008

O Circuito Psico-Sexual

Feitiçaria Sexual
O organismo humano é uma árvore da vida e do conhecimento, é um mecanismo que funciona de acordo com a antiga fisiologia da Feitiçaria Sexual. Muitas descobertas modernas da sexologia atual são realmente apenas redescobertas do antigo arcano sexual dos mistérios que foram ensinados simbolicamente por tempos imemoriais.

O Circuito Psico-Sexual é a estrutura do organismo como entendido pelos magos sexuais, é uma compreensão que vai além do conhecimento da ciência moderna e engloba visões tanto físicas quanto parafísicas dos Mistérios.

A fisiologia que é delineada neste capítulo deve ser estudada com diligência, pois forma a base pela qual a magia sexual opera. Assuntos como as Kalas e o Amrita podem apenas ser entendidos se este circuito psico-sexual é adequadamente compreendido de antemão.

"O adepto deve identificar-se com seu corpo e transformá-lo, pois o corpo é a ligação entre o cósmico e o terrestre. Como a extensão material da expressão psíquica, o corpo brilha, irradia e anima-se na alegria de ser ele mesmo."

Sir John Woodroffe


O Circuito Psico-Sexual Humano

A configuração psico-sexual humana é um Tarot vivo. Embora, no passado, este termo tenha sido usado exclusivamente a respeito das

Chaves dos Mistérios (as cartas do Tarot), tem um significado mais avançado na forma de um circuito de eesência. O termo Tarot pode, pela Temurah, ser entendido como Lei (Torah), Roda (Rotah) e Essência (Taro). Estas definições quando conjuntas sugerem que o Tarot é a Roda da Essência. Este conceito de um ciclo de manifestação pode ser aplicado tanto num sentido ideológico, como nos 22 Arcanos Maiores do Tarot, e num sentido psicológico, para o Tarot vivo dentro do corpo humano.

O corpo humano é um sistema intrincado de forças interconectadas, é coberto por milhões de meridianos e linhas de energia, que se interligam para formar tanto os Marmas quanto os Chakras. Estes são ligações vitais com o fluxo de energia sexual dentro do organismo e oferecem as chaves de como opera a Magia Sexual.



O Marma Ajna Psico-Sexual

Este é o primeiro Marma e está localizado no Ajna Chakra, entre as sombrancelhas. A atribuição cabalística para este Marma é a letra Ayin ou setenta. Sua atividade é a do Olho de Shiva, quando o olho se abre o mundo de aparências e ilusões desvanece e a realidade é experimentada, algumas vezes em sua brutal totalidade. Esta experiência pode ser de extrema intensidade e é apenas para os que estão preparados (veja 'A História do Grande Deus Pan' de Arthur Machen como exemplo). Está relacionado astrologicamente com o signo de Capricórnio por simbolizar a experiência de Pan, a visão da integridade e unicidade de todas as coisas.



O Marma Psico-Sexual Qoph

O segundo Marma está localizado na nuca, sendo o trono cerebral da atividade sexual dentro da espécie humana e é atribuído à letra hebraica Qoph, de número cem. Esta enumeração pode ser entendida como a união do P (Phalus, falo em grego), 80, com o K (Ktéis, vagina em grego), 20. Qoph é atribuída à esfera lunar e este centro está envolvido com as secreções que estimulam o impulso e o desenvolvimento sexuais.



O Marma Psico-Sexual Visuddha

O terceiro Marma está oposto ao Qoph e está localizado no Chakra Visuddha, o centro laríngeo. Sua atividade em magia sexual é emanar a palavra (Logos) que é criada pela interação dos centros Ajna e Qoph. Esta união de Vontade e Vibração cria o Logos que é manifesto em Daath, ou seja, a garganta. Esta atribuição difere da Qabbalah moderna mas é imperativa para um entendimento do circuito psico-sexual.

Esta interação entre os Marmas Ajna e Qoph no Visuddha é central para uma compreensão da fixação da força sexual. A Gematria de Ayin e Qoph prova ser informativa : Ayin + Qoph = 170

170 é o número dos gigantes ou Nephilim. Os seres que são criados pela Vontade sozinha e que podem ser comparados aos Titãs da mitologia grega. Eles são seres de puro Logos; formulações da Vontade que são criadas pelo Eu (Self) em Ayin através das forças sexuais de Qoph e manifestas no Visuddha.

"...e a palavra transformou-se em carne."
Evangelho de João, capítulo um.


Os Marmas Psico-Sexuais das Palmas

Estes marmas encontram-se nas palmas das mãos, mas são tratados como um só marma no circuito geral. Eles estão atribuídos à letra Kaph e cada palma tem o número 20. As palmas são usadas para focalizar p fluxo de energia com o circuito. A esquerda é negativa e a direita é positiva, embora isso possa variar de mago para mago.

Juntas, as duas palmas dão o número 40, que por Gematria significa o Libertador e Leite, ambas referências aplicam-se para o uso das mãos para liberar fluidos sexuais durante rituais tântricos. Outras referências relacionadas incluem a Mão do Eterno e Mem, que pode ser definida tanto como sangue, fluidos (sexuais) ou vinho, todos novamente enfatizando o papel das mãos como libertadoras de secreções.



O Marma Psico-Sexual Genital

O quinto marma psico-sexual é os próprios órgãos sexuais, atribuídos a Ayin, de número setenta. Os órgãos são o segundo Olho e representam o esconderijo secreto da serpente (Kundalini).

Este número setenta pode também ser aplicado para LIL (noite) e SVD (segredo), ambos relacionados com esta zona psico-sexual como originadora dos Kalas, as secreções noturnas que sempre fluem ou Ain (Kali / Nuit). Setenta também é o número de CHBS ou Estrela, isto está implícito na mensagem "o Khabs está no Khu e não o Khu no Khabs" do Livro da Lei. Esta mensagem codificada refere-se ao fato de que a essência das estrelas não é encontrada na eternidade do espaço, mas nas secreções sexuais da Estrela encarnada como entidade.

Uma implicação mais avançada a respeito deste Marma é encontrada na palavra INN, que significa vinho, representando o sacramento deste marma psico-sexual, que conhecemos como Amrita.



O Marma Psico-Sexual do Olho Secreto

O Olho Secreto é o Olho de Set e portanto, é o reverso dos órgãos sexuais. Também atribuí-se a Ayin (70), entretanto, sua aplicação é na região anal e sua associação com a Kundalini.

Aqui, temos o ânus do bode como é visto no Sabbat das Bruxas e o mistério de SVD, que é o olho do bode como visto na imagem de Baphomet encontrada nos ritos dos Cavaleiros Tamplários.


O Marma Psico-Sexual de Bindu

Este marma é o fogo interno, atribuído à letra Yod (10). Representa o Ponto Bindu, o ponto onde os dois sistemas sexuais conectados unem-se para formar uma simbiose. Pela Gematria, encontramos que dez está relacionado a Elevado, Planar e Janela. Todas estas imagens podem se relacionar ao uso do calor sexual para ir além do organismo em direção às visões do espaço interno.



O Circuito

Quando examinamos os sete marmas acima, chegamos a um ciclo de força psico-sexual, sendo este ciclo composto de oito segmentos ou zonas. Se considerarmos as duas palmas como zonas separadas, quando juntas com os outros centros formula-se um ciclo completo de 360 graus. Este círculo é o ciclo interno de Aeons, sete embora oito, o oitavo sendo o final do ciclo no Ponto Bindu de realização, este ciclo forma o ABRASAX interno, o senhor gnóstico de 360 graus. A Vontade como criada e fortalecida pelo ciclo interno de Aeons e secreções.

O sistema numérico deste ciclo é :

AYIN (70) + QOPH (100) + KAPH / KAPH (20 e 20) + AYIN : órgãos sexuais (70) + AYIN : ânus (70) + PONTO BINDU : YOD (10) = 360 graus

Os cinco graus restantes (para formar um ano) são os graus esotéricos do Círculo, os cinco dígitos da Deusa. Eles são atribuídos a vários Deuses e Deusas e têm um uso específico tanto na ciência macrocósmica de registro do tempo como na ciência microcósmica do corpo e suas correntes, que é conhecida no oriente como Kalavidya, Este ciclo não é apenas encontrado na seqüência sexual de marmas aqui descrita mas também dentro dos chakras gerais como encontrado na Kundalini Yôga tradicional. Ambos sistemas, bem como as atribuições físicas da Árvore da Vida, interagem como círculos numa grade cósmica, cada um forma um ciclo de manifestação e está envolvido na Árvore da Vida animada que o corpo humano forma. Ao invés de a Qabbalah ser uma realidade separada de Sephiroth e Caminhos, é um corpo vivo, um sistema de experiência e possibilidade internas.

No sistema tradicional de chakras o ciclo é composto de raios dentro de cada chakra, estes raios representando as emanações dos pés da Deusa Primal após ela ter se elevado ao Shasrara Chakra. Portanto, as emanações deste chakra são vistas como as da própria Deusa, ou em termos mais adequados, do Eu e assim não são contadas no cálculo dos raios.




Ajna Chakra Região Pituitária 64 raios
Visuddha Chakra Região Tiroidal 72 raios
Anahata Chakra Região Cardíaca 54 raios
Manipura Chakra Plexo Solar 56 raios
Swadisthana Chakra Região Genital 62 raios
Muladahara Chakra Região Coccígea/Anal 56 raios
Ciclo Completo
360 raios







Dentro destes 360 graus existem outras divisões conhecidas como : Estelar, Solar e Lunar. Estas relacionam-se aos três segmentos do ritual tântrico e aos três segmentos da coluna dorsal : Ida, Susumna e Pingala. 118 graus são atribuídos ao Fogo (Estelar), 106 são atribuídos às influências Solares e 136 à Lunar, os cinco restantes são portanto, mais uma vez, os dígitos secretos da Deusa Kali (Ain).

Como será prontamente notado, as imagens ou formas de deuses usadas variam de acordo com a tradição, Kali, Set e Nuit podem ser todos atribuídos a Ain e usados de acordo com trabalhos e desejo ou inclinação.

Como pode ser visto acima, um sistema de atribuição pode ser formulado baseado nestes graus. Estes podem ser interpretados de diversas maneiras: os oito segmentos ou marmas, até mesmo os oito chakras, mais o Sahasrara chakra, trabalhando como um todo. Podemos até mesmo relacionar com os oito trigramas do I Ching e quando multiplicados por si em 64 possibilidades do Tao. Isto pode criar um ciclo completo por relacionar-se com a dupla Árvore da Vida (32 x 2).

Pode também ser entendido que em qualquer organismo há dezesseis aspectos sexuais, físicos e etéricos. Portanto, em qualquer ato de união sexual há trinta e dois segmentos vivos, uma dupla Árvore da Vida sexual. Quando estes Marmas são relacionados aos 16 Kalas ou secreções isso pode ser ainda melhor entendido. O ciclo formado pelos hexagramas do I Ching é interessante, pois a alquimia sexual chinesa é uma das mais intactas tradições sobreviventes do Tantra.




Ajna Chakra Hexagrama Li Sol e Sol
Centro Qoph
Hexagrama Khan Lua e Lua
Visuddha Chakra
Trigrama Sun Ar e Ar
Palmas Li e Khan
Reflete Ajna/Qoph

Órgãos Sexuais Quian / Kun Falo / Vagina
Hexagrama Tui Água de Água
Ânus Hexagrama Gen Terra de Terra
Ponto Bindu Hexagrama Zhen Fogo de Fogo




Em consideração às diversas maneiras de intitular os Hexagramas, a lista seguinte guiará o estudante que procura explorar mais profundamente. A pronúncia em parênteses é uma alternativa de pronúncia por causa dos dialetos chineses.




Li Hexagrama 30 Tiphareth
Kan (Khan) Hexagrama 29 Yesod
Sun
Hexagrama 57 Daath
Quian (Qian) Hexagrama 1 Kether
Kun (Khwn) Hexagrama 2 Malkuth
Tui (Dui)
Hexagrama 58 Chesed
Gen (Ken) Hexagrama 52 Netzach
Zhen (Ch'en) Hexagrama 51 Geburah





Tabela de Marmas Psico-Sexuais




1. Ajna chakra (Vontade) Ayin 70 Olho de Shiva
2. Nuca Qoph 100 Origem da Força Sexual
3. Visuddha chakra Ayin/Qoph 170 Logos Manifesto




A união de Ayin e qoph criam a energia de 170 no Visuddha, este é o poder para criar os 'Nephilim' ou Gigantes Rebentos da Vontade, formações do Eu puro ativado por meios sexuais e manifesto através do poder da 'palavra' mágika (Logos).




4. Palmas das Mãos Kaph 20 cada Ativadores das Zonas Sexuais

5. Órgãos Sexuais Ayin 70

6. Região Anal Ayin 70 O Olho Secreto




Ambas zonas são atribuídas a Ayin e relacionam-se ao uso mágiko dos órgãos sexuais, frontais e dorsais à Kundalini.




7. Ponto Bindu Yod 10 O Ponto de Foco




Aqueles interessado em exploração mais detalhada do ciclo psico-sexual podem querer estudar as correspondências na página 40. Elas estão baseadas numa tabulação de Crowley e oferecem algumas introspecções (insights) interessantes sobre o ciclo sexual e sua relação às Sephiroth.

A partir destes ciclos, vamos perceber que a Árvore da Vida é um ciclo vivente de essência e, portanto, os Caminhos ou pontos conectores também devem representar fluxos de energia ou secreções dentro do organismo. O estudo seguinte dos pontos conectores como secreções do organismo vivo deve se lido em conjunto com as descrições dos Caminhos como letras hebraicas e arcanos do Tarot, encontrados em sistemas da Qabbalah tradicional e outros sistemas de atribuição.


OS CAMINHOS CONECTORES NA ÁRVORE DA VIDA COMO SECREÇÕES

O padrão de Tarot formado pela Árvore da Vida humana é uma parte intrincada da Qabbalah esotérica do Novo Aeon. Entre as Sephiroth vivas do corpo estão vários caminhos conectores ou emanações que transmitem as secreções dos reinos trans-Kether de Ain para o organismo.

Estas emanações realizam a transformação gradual do corpo e da mente e podem ser entendidas duma maneira peculiarmente tântrica com as atribuições mais tradicionais sendo comparadas e manipuladas de acordo com o engenho do próprio mago.

A décima primeira secreção é aquela do Espírito Santo. O Santo intoxicado é simbolizado pela respiração cósmica e pela águia de duas cabeças. É associado com o trigésimo terceiro grau da maçonaria e tem uma conexão elemental com Akasha. O Ovo Negro ou chama desta secreção pode também se relacionar a Sebek, o senhor crocodilo e a manifestação de Set.

A décima segunda secreção é aquela do Mestre de Maya e é governada por Hermes ou Mercúrio. Ele é o senhor do Falo e entende o segredo dos pólos opostos, a Pomba e a Serpente e da Casa de Deus (Beth). Seus poderes dualistas são a magia polarizada e apolar e ele controla todas as formas de transmissão de energia.

A décima terceira secreção é aquela da Alta Sacerdotisa Lunar, a Deusa tripla em seu estado virginal ou adormecido, a Ísis dormente, Artemís e Donzela. Ela é a essência e transmite os Kalas de Plutão através das areias de Urano.

A décima quarta secreção é a Grande Mãe, a porta pela qual a manifestação é alcançada, ela é a governante da magia polarizada e é representada na Alquimia Sexual pelo elemento do Sal. Seu domínio planetário é Vênus, que é finalmente transcendido em Sirius, portanto, ela é Daleth, a ligação entre os mundos.

A décima quinta secreção é altamente importante no Novo Aeon devido à injunção do Livro da Lei de transferir os títulos do Imperador e da Estrela. Esta secreção é agora a Estrela de Aquário, as secreções fluidas da Deusa que transforma o humano (Tiphareth) em Besta (Chokmah). A estrela representa a fórmula do Khabs no Khu, onde a essência do espaço infinito é encontrada dentro das secreções do organismo.

A décima sexta secreção é aquela do Alto Sacerdote dentro do culto do Humano Superior, tipificado por Touro. Nos velhos cultos a besta era exterminada como sacrifício, hoje, o uso do instinto animal alcança seu estágio mais alto de consciência.

O Touro traz a força da Besta 666 para a manifestação como o divino rei de Júpiter. O número dezesseis também significa a secreção ou Kala secreto, que é o acúmulo dos quinze Kalas anteriores, que vieram ao seu clímax dentro da Estrela (Kala quinze) e manifestaram-se no vórtice do décimo sexto Kala, o Humano Superior.

A décima sétima secreção complementa e balanceia a da estrela da décima quinta e é usada pelo Humano Superior da décima sexta. A décima sétima secreção é a dos gêmeos, governantes duais de Zain, Hórus e Set. Portanto, nesta combinação de secreções nós começamos a ver a estrutura do sistema do Novo Aeon.

A décima terceira, décima quarta e décima quinta secreções são a Deusa Tripla que é Virgem, Prostituta e Mãe Sagradas. A décima sexta secreção é o Humano Superior, Taurus, o Touro da Deusa, cuja forma externa é Hórus e cuja Vontade Verdadeira é Set e isso é novamente reafirmado nos Gêmeos da décima sétima secreção.

Quando olhamos profundamente nos Mistérios destas secreções, vemos que Osíris era simplesmente uma forma mais antiga de Hórus. Portanto, Hórus era tanto o consorte quanto a criança de Ísis. Enquanto Set é Vontade Verdadeira de ambos, cuja mensagem não será plenamente compreendida até que a mensagem de Maat seja anunciada em conjunto.

Portanto, os gêmeos não são apenas Hórus e Set, mas Set e Maat.

"Pois duas coisas são feitas e uma terceira é começada. Ísis e Osíris estão dados a incesto e adultério. Hórus salta do seio de sua mãe com três braços. Harpócrates, seu gêmeo, está oculto dentro dele. SET é seu pacto sagrado, que deve mostrar-se no grande dia de M.A.A.T. (cujo nome é verdade)."

Liber A'Ash vel Capricorni Pneumatici, de Aleister Crowley

A décima oitava secreção é o impulso criativo e sexual do Mestre, balanceia o Humano Superior da décima sexta, representando a força de Câncer ou Cheth. Câncer é o caranguejo e é usado para simbolizar o caminho tântrico de Viparita Karani, indo para trás ou de lado (reversão dos sentidos) para atingir uma finalidade mágika.

A décima nona secreção é a Luxúria do Leão, que representa a semente da serpente que ativa a porta de Daleth da Sacerdotisa. É atribuída a Teth, a serpente fálica.

A combinação de Daleth e da Semente da Serpente forma o Espermatozoon ou Elixir Sexual : O Ermitão de Virgem.

A vigésima secreção é o Espermatozoon ou Eu Sexual do Ermitão, ele é o Rebento da Vontade; o Eu Verdadeiro que é formado pela união das formas opostas da psique e do corpo, Babalon e a Besta.

A vigésima primeira secreção é o Senhor do Karma, o Ermitão que foi formado pela Besta e por Babalon e está trabalhando na iniciação do Humano Superior. Ele aprende a superar a onda de recorrência eterna presente na roda eterna.

A vigésima segunda secreção é a de Libra, ajuste através da evolução do Eu além da recorrência eterna, via Magia Sexual. O Mago alinha a realidade com a iniciação pela qual ele está passando, sendo que esta ação detona a experiência do arcano do Enforcado.

A vigésima terceira secreção é a iniciação das Secreções Sexuais. O Mago cai no inconsciente através dos processos da Magia Sexual e começa a retificar o que está contido dentro de seus limites. Um dos métodos para se atingir isto está na próxima secreção.

A décima quarta secreção é Escorpião. Representa o orgasmo como uma "pequena morte". Sua lição é o uso do orgasmo para programar a psique e a invocação do excesso sexual para experienciar os limites da mente e do corpo.

A décima quinta secreção representa o uso da paixão animal para atingir um estado de Androginia. Esta imagem é representada como o Sagitário ou Baphomet e conforme a paixão aumenta, transforma o mago em experiências das Secreções do Bode.

A vigésima sexta secreção é a de Capricórnio, o Bode. Representa o uso de forte paixão animal para quebrar a ilusão (tipificada pela imagem do diabo) e transformá-la em Vontade pura. O produto disto é a manifestação do poder da projeção sexual como visto na próxima secreção.

A vigésima sétima secreção é a do uso do Falo como ferramenta de projeção. É atribuído a Marte, mas não num aspecto negativo, representa o jato de sêmen, criando estrelas e imagens através da programação do orgasmo. Também representa a ativação da Kundalini e sua ascensão pela torre ou coluna vertebral, detonadas pelas práticas Delta.

A vigésima oitava secreção é atribuída ao Imperador e a Áries. Tem diversas aplicações, uma das quais é o uso da tintura Vermelha, isto é, as secreções menstruais de uma Maga. Pode também se relacionar ao uso de paixão excessiva ou luxúria extrema para superar barreiras e limites e atingir o frenesi orgásmico da Torre.

A vigésima nona secreção é a da Lua. Está sob o governo de Qoph e portanto nossa discussão prévia de Qoph deve ser considerada. É uma passagem especial conectada ao instinto e, às vezes, até mesmo à transformação licantrópica.

A trigésima secreção é a do Sol, sendo o poder da aspiração e dos ideais que influenciam o fluxo da energia sexual. Deve ser entendida em conjunto com a informação já discutida a respeito do Ajna chakra. O produto da qual é visto no Logos ou palavra da trigésima primeira chave.

A trigésima primeira secreção é o Aeon, o arauto da Nova corrente. A mensagem do fluxo interno de Aeon-Kalas trabalhando em conjunto com a eternidade da progressão temporal. Seu número é 31 e reflete a mensagem do Livro da Lei (LIber AL ou 31), enquanto que seu reverso é treze, a Sacerdotisa da Estrela de Prata.

A trigésima segunda secreção é a da Manifestação. Tau em extensão, seu número é 440, secreções movendo-se para a plena materialização. É tanto o primeiro passo nos Mistérios ou a manifestação do Humano Superior na Terra. Tau é o sigilo do Deus Set e o ciclo está completado.



Notas sobre os Caminhos como Secreções

As secreções da Árvore da Vida biológica reúnem os vários métodos de interpretação a respeito dos Caminhos. Quando unidos, eles criam um fluxo em forma de Mandala.

Há várias fontes para informação avançada : os vários livros de Kenneth Grant, tais como "Cults of the Shadows", Cultos das Sombras, (Muller, 1975), entretanto, cegueiras deliberadas em muitas de suas interpretações são infelizes.

Para ajudar na organização destes conceitos em um sistema coerente, a seguinte tabela dos Caminhos das Secreções é feita para a exploração.


SUMÁRIOS DOS CAMINHOS COMO SECREÇÕES




11. Espírito Santo
Santo Intoxicado
12. Chaos Pomba e Serpente
13. Alta Sacerdotisa Deusa Dormente
14. Babalon Deusa Sexual
15. Estrela Mãe do Espaço
16. Homus superioris Kala Secreto, Alto Sacerdote
17. Gêmeos Set e Maat
18. Impulso Criativo Princípio da Reversão
19. Semente da Serpente Impregnação de Babalon
20. Espermatozoon Ermitão como Criança Cósmica
21. Senhor do Karma Controle da Realidade
22. Fuga Livrando-se do ciclo terrestre
23. Iniciação Explorando o Inconsciente
24. Orgasmo Thanatos absorvido em Eros
25. Baphomet Androginia
26. Capricórnio Exploração
27. Projeção Fálica Paixão animal destrói a Ilusão
28. Tintura Vermelha Excesso de paixão
29. Lua Originador sexual
30. Sol Ajna chakra
31. Aeon Mensagem como Logos
32. Sigilo de Set Manifestação ou começo.





Combinações Especiais Válidas de Atenção

13, 14 e 15 : Tripla Deusa que é estimulada por

16, Alto Sacerdote : Quem ativa a décima sexta e

17, os Gêmeos manifestos na dualidade de Set e Maat, impulso criativo interno e externo (18, 19).

14, Babalon, que dá nascimento ao Rebento do Eu,

20, o Ermitão : as iniciações de quem compreende os caminhos

21 a 26, resultando na união de Ajna e Qoph (29, 30)

31, a declaração do Novo Aeon e

32, a Manifestação do Novo Aeon.



O Simbolismo da Mandala

Um dos mais antigos métodos de simbolizar o ciclo dos Kalas é encontrado na Mandala, esta jóia visual, que embora desenhada em duas dimensões é na verdade de caráter tridimensional. Embora nem sempre desenhada, magos avançados podem formá-la mentalmente. Mandalas tendem a ser circulares em forma, focalizadas num ponto central. Normalmente são povoadas por imagens de Deuses, Deusas e Espíritos dos mais diversos e são símbolos do circuito psico-sexual.

A mandalas mais antigas são encontradas nas escolas tântricas e delineiam os ensinamentos sexuais com simplicidade. Um exemplo clássico é encontrado no Shri-Yantra. O Shri-Yantra é baseado num triângulo invertido, no centro do qual há um ponto representando o Sêmen. O triângulo em si é a vulva. Está contido em um triângulo de apontado para cima, que representa o Falo. Novamente este é cercado por um triângulo apontado para baixo, que é cercado por um triângulo apontado para cima, até completarem-se nove triângulos no desenho, normalmente, sugerindo a interação da vulva e do falo no coito. A borda externa é coberta por imagens de lótus e outras flores para criar uma proteção em torno da atividade ali contida.

A mandala das artes exemplificadas pelas figuras do Bon tibetano é normalmente criada de várias zonas. São ocupadas por Senhores do Submundo, esqueletos, demônios, cenas tétricas e amostras de cópula. Há muito em comum com as mandalas da adoração de Kali, que usam a representação do sexo e da morte para alcançar a catarse de Eros e Thanatos.

A importância da mandala é ofato de que é uma máquina oculta, um aparato vivo que pode ser usado para trabalhar as várias facetas do circuito psico-sexual de essência. As formas da mandala podem variar de trabalho para trabalho...em trabalhos mais obscuros, as mandalas do Tibet e do culto de Kali podem ser usadas, enquanto trabalhos com os Antigos (estilo do Necronomicon) podem apresentar melhores resultados com Mandalas Trapezóides das tradições necromânticas germânicas.

As mandalas são representações vivas do processo da magia, elas são bem sucedidas por sua mensagem afundar rapidamente no inconsciente, perdendo a maior parte do mediador consciente e alcançando seu objetivo sem impedimento. No ocidente, as mandalas sobrevivem na forma do círculo sagrado, do disco, do anel e até mesmo no Ouroborus Cósmico, que está sempre balançando sua própria cauda (Falo).

Na prática, a mandala é de significância por trazer juntas as várias facetas de um dado ciclo e transmiti-las profundamente ao inconsciente. Ao contemplar um trabalho, crie uma mandala, antiga ou moderna, para sintetizar os trabalhos e então, usando técnicas meditativas, programe o inconsciente antes do trabalho, otimizando a qualidade e o poder do ritual.


Conclusão

Para concluir este capítulo, deixaremos você com um poema de um mestre do tantra moderno, Dadaji, de suas séries póstumas :

"Na alquimia da yôga iluminadora, a servidão se rompe mas a alma sobrevive ao fogo.
Neste caminho nós exterminamos obstruções e vemos o vazio do desejo mundano.
Este é o caminho que você fez, não há volta, remorso ou lágrimas, mesmo se pesadas como a chuva, não mais têm significado agora e você deve encarar a semente plantada, renascida mais uma vez.
Em beatitude e alegria de profunda 'possessão de si mesmo' (samadhi), ainda que nada procure, é apenas serenidade.
Então virá a realização suprema, que você é uma alma e que sempre esteve livre."

domingo, 6 de abril de 2008

~ Sonetos de William Shakespeare ~

Os Sonetos de Shakespeare (The Sonnets) constituem uma coleção de 154 poemas sob a forma estrófica do soneto inglês que abordam uma galeria de temas tais como o amor, a beleza, a política e a morte.

Foram escritos, provavelmente, ao longo de vários anos, para no final, serem publicados, exceto os dois primeiros, em uma coleção de 1609; os número 138 ("When my love swears that she is made of truth") e 144 ("Two loves have I, of comfort and despair") haviam sido previamente publicados em uma coletânea de 1599 intitulada The Passionate Pilgrim.

Os Sonetos foram publicados em condições que, todavia hoje seguem sendo incertas. Por exemplo, existe uma misteriosa dedicatória no começo do texto onde um certo "Mr. W.H." é descrito pelo editor Thomas Thorpe como "the only begetter" (o único inspirador) dos poemas; se desconhece quem era essa pessoa. A dedicatória se refere também ao poeta com a igualmente misteriosa frase "ever-living", literalmente imortal, mas normalmente aplicado a uma pessoa já morta. Mesmo que os poemas tenham sido escritos por William Shakespeare, não se sabe se o editor usou um manuscrito autorizado por ele ou uma cópia não autorizada. Estranhamente, o nome do autor está dividido por um hífen na capa e no começo de cada página da edição. Estas controvérsias têm incentivado o debate sobre a autoria das obras atribuídas a Shakespeare.

Os primeiros 17 sonetos se dirigem a um jovem, incentivando-o a casar-se e a ter filhos, de forma que sua beleza possa ser transmitida às gerações seguintes. Este grupo de poemas é conhecido com o nome de procreation sonnets (sonetos da procriação).

Os sonetos que vão do 18 ao 126 também são dirigidos a um jovem, porém agora ressaltando o amor que é descrito com muito lirismo.

Os compreendidos entre o127 e o152 abordam temas como a infidelidade, a resolução para controlar a luxúria, etc.

Os últimos dois sonetos, o 153 e o 154, são alegóricos.

~ Estrutura ~

Cada soneto é formado por quatro estrofes, três quartetos e um terceto final, compostos em pentâmeros iâmbicos (o verso também usado nas obras dramáticas de Shakespeare) com um esquema de rima abab cdcd efef gg (forma que hoje em dia é conhecida como soneto shakespereano). Há três exceções: os sonetos 99, 126 e 145. O número 99 tem quinze versos. O 126 consiste em seis tercetos e dois versos brancos (sem rimas) escritos em letras itálicas. Por outro lado, o 145 está em tetrâmetros iâmbicos, e não em pentâmeros. Com freqüência, o começo do terceiro quarteto assinala a volta do verso no que o tom do poema muda, e o poeta expressa uma revelação ou aparição.

~ Personagens ~

Três são os personagens aos que se dirigem a maioria dos sonetos: um formoso jovem, um poeta rival e a dama morena; convencionalmente, cada um destes destinatários é conhecido pelo sobrenome de, respectivamente, o Fair Youth, o Rival Poet e a Dark Lady. A linguagem lírica expressa admiração pela beleza do jovem, e que mais tarde mantém uma relação com a Dark Lady. Desconhece-se se os poemas e seus personagens são fictícios ou autobiográficos. Se fossem autobiográficos, as identidades dos personagens estariam abertas ao debate. Diversos especialistas, especialmente A. L. Rowse, têm sugerido identificar os personagens com figuras históricas.

~ Fair Youth ~

O “Fair Youth” é um jovem sem nome a quem se dirigem os sonetos que vão do 1 ao 126. O poeta descreve o jovem com uma linguagem romântica e carinhosa, um fato que tem levado vários comentaristas a sugerir uma relação homossexual entre os dois, considerando que outros interpretam como um amor platônico.

Os primeiro poemas da coleção não sugerem uma relação pessoal estreita; pelo contrário, neles se recomendam os benefícios do matrimônio e de ter filhos. Com o famoso soneto 18 ("Shall I compare thee to a summer's day": Deveria comparar-te a um dia de verão), o tom muda dramaticamente para uma intimidade romântica. O soneto 20 se lamenta explicitamente de que o jovem não seja uma mulher. A maioria dos seguintes sonetos descreve os altos e baixos de um relacionamento, culminando com um caso, digamos assim, entre o poeta e a Dark Lady. O relacionamento parece terminar quando o Fair Youth sucumbe aos encantos da dama.

Tem havido numerosas tentativas de se identificar o amigo misterioso. O protetor de Shakespeare durante algum tempo, Henry Wriothesley, terceiro conde de Southampton, é o candidato que mais vezes tem sido sugerido para essa identificação, ainda que o último protetor de Shakespeare, William Herbert, terceiro conde de Pembroke, foi recentemente cogitado como outra possibilidade. Ambas as teorias estão relacionadas com a dedicatória dos sonetos a 'Mr. W.H.', "the only begetter of these ensuing sonnets" (o único inspirador dos seguintes sonetos): as iniciais podiam ser aplicadas a qualquer dos condes. Sem dúvida, já que a linguagem de Shakespeare parece em certas ocasiões indicar que o amigo seja alguém de um status social mais elevado que o deles, poderia não ser assim. As aparentes referências à inferioridade do poeta podem ser simplesmente partes da retórica da submissão romântica. Uma teoria alternativa, exposta no relato de Oscar Wilde "The Portrait of Mr. W. H." aponta a uma série de jogos de palavras que poderiam sugerir que os sonetos foram escritos para um jovem ator chamado William Hughes (Mr. W. H.); sem dúvida, o conto de Wilde reconhece que não há evidências da existência de tal pessoa. Samuel Butler, por sua vez, acreditava que o amigo fosse um marinheiro, e recentemente Joseph Pequigney ('Such Is My love') sugeriu ser um desconhecido plebeu.
~ The Dark Lady ~

Os sonetos do 127 ao 152 se dirigem a uma mulher geralmente conhecida como a “Dark Lady”, pois de seus cabelos dizem que são pretos e de sua pele que é morena. Estes sonetos têm um caráter explicitamente sexual, diferentemente dos escritos ao "Fair Youth". Da leitura se percebe que o jovem dos sonetos e a dama mantiveram uma relação apaixonada, mas que ela lhe foi infiel, possivelmente com o "Fair Youth".

Humildemente, o poeta se descreve como calvo e de meia idade no momento da relação.

Muito se tem imaginado em numerosas ocasiões identificar a "Dark Lady" com personalidades históricas, tais como Mary Fitton ou a poeta Emilia Lanier, que é a favorita de Rowse. Alguns leitores têm sugerido que a referência a sua pele escura poderia sugerir uma origem espanhola ou mesmo africana (por exemplo, na novela de Anthony Burgess sobre Shakespeare, Nothing Like the Sun). Outras pessoas, pelo contrário, insistem em afirmar que a Dark Lady não é mais do que um personagem de ficção e que nunca existiu na vida real; sugerem, afinal, que a tonalidade da pele da dama não deve ser entendida literalmente senão como representação do desejo pecaminoso da luxúria como oposta ao amor platônico ideal associado com o "Fair Youth".

~ The Rival Poet ~

O poeta rival é, às vezes, identificado com Christopher Marlowe ou com George Chapman. Sem dúvida, não há evidências contundentes de que o personagem tenha uma correspondência com alguma pessoa real.

~ Temas ~

Os sonetos de Shakespeare são, freqüentemente, mais sexuais e prosaicos que as coleções de sonetos contemporâneas de outros poetas. Uma interpretação disto é que os sonetos de Shakespeare são, em parte, uma imitação ou uma paródia da tradição de sonetos amorosos petrarquistas que dominou parte da poesia européia durante três séculos. O que Shakespeare faz é converter a "madonna angelicata" em um jovem ou a formosa dama em uma dama morena. Shakespeare viola também algumas regras sonetísticas que haviam sido estritamente seguidas por outros poetas: fala de males humanos que não tem nada a ver com o amor (soneto 66), comenta assuntos políticos (soneto 124), faz gracejos sobre o amor (soneto 128), parodia a beleza (soneto 130), joga com os papéis sexuais (soneto 20), fala abertamente sobre sexo (soneto 129) e inclusive introduz engenhosos matizes pornográficos (soneto 151).

~ Legado ~

Além de situar-se ao final da tradição sonetística petrarquista, os sonetos de Shakespeare podem também ser vistos como um protótipo, ou inclusive como o começo, de um novo tipo de moderna poesia amorosa. Após Shakespeare ser descoberto durante o século XVIII — e não só na Inglaterra — os sonetos cresceram em importância durante o século XIX.

A importância e influência dos sonetos se demonstram na inumerável série de traduções que se tem feito deles. Até hoje, só nos países de língua germânica, já foram feitas centenas de traduções completas desde 1784. Não há nenhuma língua importante que não tenham sido traduzidos, incluindo o Latim, Turco, Japonês, Esperanto, etc.; e até em alguns dialetos.



~ Soneto 15 ~

Quando penso que tudo o quanto cresce
Só prende a perfeição por um momento,
Que neste palco é sombra o que aparece
Velado pelo olhar do firmamento;

Que os homens, como as plantas que germinam,
Do céu têm o que os freie e o que os ajude;
Crescem pujantes e, depois, declinam,
Lembrando apenas sua plenitude.

Então a idéia dessa instável sina
Mais rica ainda te faz ao meu olhar;
Vendo o tempo, em debate com a ruína,

Teu jovem dia em noite transmutar.
Por teu amor com o tempo, então, guerreio,
E o que ele toma, a ti eu presenteio.

~ Soneto 17 ~

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

~ Soneto 23 ~

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.
~ Soneto 53 ~

De que substância foste modelado,
Se com mil vultos o teu vulto medes?
Tantas sombras difundes, enfeixado
Num ser que as prende, e a todas sobre excedes;

Adônis mesmo segue o teu modelo
Em vã, esmaecida imitação;
A face helênica onde pousa o belo
Ganhou em ti maior coloração;

A primavera é cópia desta forma,
A plenitude és tu, em que consiste
O ver que toda graça se transforma

No teu reflexo em tudo quanto existe:
Qualquer beleza externa te revela
Que a alma fiel em ti acha mais bela.

~ Soneto 29 ~

Quando, malquisto da fortuna e do homem,
Comigo a sós lamento o meu estado,
E lanço aos céus os ais que me consomem,
E olhando para mim maldigo o fado;

Vendo outro ser mais rico de esperança,
Invejando seu porte e os seus amigos;
Se invejo de um a arte, outro a bonança,
Descontente dos sonhos mais antigos;

Se, desprezado e cheio de amargura,
Penso um momento em vós logo, feliz,
Como a ave que abre as asas para a altura,

Esqueço a lama que o meu ser maldiz:
Pois tão doce é lembrar o que valeis
Que está sorte eu não troco nem com reis.

~ Soneto 30 ~

Quando à corte silente do pensar
Eu convoco as lembranças do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar,
Chorando o tempo já desperdiçado,

Afogo olhar em lágrima, tão rara,
Por amigos que a morte anoiteceu;
Pranteio dor que o amor já superara,
Deplorando o que desapareceu.

Posso então lastimar o erro esquecido,
E de tais penas recontar as sagas,
Chorando o já chorado e já sofrido,

Tornando a pagar contas todas pagas.
Mas, amigo, se em ti penso um momento,
Vão-se as perdas e acaba o sofrimento

~ Soneto 35 ~

Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;

Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;

Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço

Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.

~ Soneto 65 ~

Se bronze, pedra, terra, mar sem fim
Estão sob o jugo da mortalidade,
Como há de o belo enfrentar fúria assim
Se, como a flor, é só fragilidade?

Como há de o mel do estio respirar
Frente o cerco dos dias, que é implacável,
Se nem rochas o podem enfrentar
Nem porta de aço ao Tempo é impermeável?

Diga-me onde, horrível reflexão,
Pode o belo do Tempo se ocultar?
Seu passo é retardado por que mão?

Quem pode a ruína do belo evitar?
Só se eu este milagre aqui fizer
E a tinta ao meu amor um brilho der.

~ Soneto 91 ~

Alguns cantam seu berço, alguns talento,
Alguns riqueza, alguns seu corpo são,
Alguns as vestes, mesmo de um momento,
Alguns o seu falcão, cavalo ou cão;

Toda emoção traz seu próprio prazer,
Que uma grande alegria neste tem;
Mas não sei desse meu gáudio fazer,
Pois eu supero a todos com um só bem.

Mais que berço pra mim é o teu amor,
Mais rico que a riqueza, que tecido,
Maior do que animal é o teu valor;

Tendo a ti sou por tudo envaidecido:
Sou desgraçado só no tu poderes
Levando tudo, infeliz me fazeres.

~ Soneto 92 ~

Faz teu pior pra mim te afastares,
Enquanto eu viva tu és sempre meu,
Não há mais vida se tu não ficares,
Pois ela vive desse amor que é teu.

Por que hei de temer grande traição
Se tem fim minha vida com a menor;
De vida abençoada eu sou, então,
Por não estar preso ao teu cruel humor.
Tua mente inconstante não me afeta,
Minha vida é ligada à tua sorte;
Como é feliz o fato que decreta

Que sou feliz no amor, feliz na morte!
Porém que graça escapa de temer?
Podes ser falso e eu sequer saber.

~ Soneto 96 ~

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
È astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

~ Soneto 130 ~

Não tem olhos solares, meu amor;
Mais rubro que seus lábios é o coral;
Se neve é branca, é escura a sua cor;
E a cabeleira ao arame é igual.

Vermelha e branca é a rosa adamascada
Mas tal rosa sua face não iguala;
E há fragrância bem mais delicada
Do que a do ar que minha amante exala.

Muito gosto de ouvi-la, mesmo quando
Na música há melhor diapasão;
Nunca vi uma deusa deslizando,

Mas minha amada caminha no chão.
Mas juro que esse amor me é mais caro
Que qualquer outra à qual eu a comparo.

~ Soneto 137 ~

Que fazes a meus olhos, tolo Amor,
Que eles olham sem ver o que estão vendo?
Sabem o que é beleza, aonde for,
Mas que o melhor é mal ficam dizendo.

Se os olhos corrompidos pelo afeto
Prendem-se ao baio por todos montado,
Por que fizeste ganchos com mentiras
Aos quais meu pensamento fica atado?

Por que meu coração julga ser seu
O terreno que sabe ser de mil
Ou contesta o que viu o olho meu

Tentando tornar belo o rosto vil?
No certo olhar e coração erraram
E pro que é falso os dois se transportaram.

~ Soneto 148 ~

Ai, ai, que olhos pôs-me o amor no rosto,
Que não se ligam com a real visão!
Se ligam, onde foi o juízo posto
Que ao certo lança falsa acusação?

Se o que meu falso olhar ama é bonito
Que meios tem o mundo pra o negar?
E se o não for, pelo amor fica dito
Que o olhar do mundo vence o de se amar.

Como pode do Amor o olhar ser justo
Se entre vigília e pranto ele se verga?
E nem espanta o olhar errar de susto

Se sem céu claro nem o sol enxerga.
Esperto amor, com pranto a me cegar
Pra cobrir erros quando o amor olhar.

~ Soneto 28 ~

Como voltar alegre ao meu labor
Se não tenho a vantagem da dormida?
Se o dia tem na noite um opressor,
E a noite pelo dia é oprimida?

Mesmo inimigos ambos se mostrando,
Os dois se unem pra me torturar;
Por meu labor de ti só me afastar.

Que tu brilhas por ele eu digo ao dia,
E o alegras, se o céu fica nublado.
Mas bajulo da noite a tez sombria:

Sem astros, tu lhe dás teu tom dourado.
Mas os dias só trazem dissabores,
E as noites fortalecem minhas dores.

~ Soneto 59 ~

Se nada é novo, e o que hoje existe
Sempre foi, por falha a nossa mente
E, se esforçando por criar, insiste,
Parindo o mesmo filho novamente!

Que do passado houvesse uma mensagem,
Já com mais de quinhentas translações,
Mostrando em livro antigo a sua imagem
Quando a escrita mal tinha convenções!

Para eu ver o que então diria o mundo
Da maravilha dessa sua forma;
Se nós ou eles vamos mais ao fundo,

Ou se a revolução nada reforma.
Estou certo que os sábios do passado
A alvo pior tenham louvado.

~ Soneto 71 ~

Quando eu morrer não chores mais por mim
Do que hás de ouvir triste sino a dobrar
Dizendo ao mundo que eu fugi enfim
Do mundo vil pra com os vermes morar.

E nem relembres, se estes versos leres,
A mão que os escreveu, pois te amo tanto
Que prefiro ver de mim te esqueceres
Do que o lembrar-me te levar ao pranto.

Se leres estas linhas, eu proclamo,
Quando eu, talvez, ao pó tenha voltado,
Nem tentes relembrar como me chamo:

Que fique o amor, como a vida, acabado.
Para que o sábio, olhando a tua dor,
Do amor não ria, depois que eu me for.

~ Soneto 73 ~

Em mim tu vês a época do estio
Na qual as folhas pendem, amarelas,
De ramos que se agitam contra o frio,
Coros onde cantaram aves belas.

Tu me vês no ocaso de um tal dia
Depois que o Sol no poente se enterra,
Quando depois que a noite o esvazia,
O outro eu da morte sela a terra.

Em mim tu vês só o brilho da pira
Que nas cinzas de sua juventude
Como em leito de morte agora expira

Comido pelo que lhe deu saúde.
Visto isso, tens mais força para amar
E amar muito o que em breve vais deixar.

~ Soneto 107 ~

Medos, nem alma capaz de prever
Os sonhos de porvir do mundo inteiro,
Podem o meu amor circunscrever,
Nem dar-lhe fado triste por certeiro.

A Lua seu eclipse superou,
Os agourentos de si podem rir,
A incerteza agora se firmou,
A paz proclama olivas no porvir.

Com o orvalho dos tempos refrescado
O meu amor a própria morte prende
E em meus versos vivo consagrado,

Enquanto as tribos mudas ela ofende.
Aqui encontrarás teu monumento,
E o bronze dos tiranos vai com o vento.

Renato Russo

Melancolia no lugar do Punk

Se até o momento o Legião Urbana vinha alternando discos que abordavam a ética pública com os que tratavam sobre a esfera privada, era de se esperar que viesse com uma forte carga Punk. Porém, após o introspectivo Quatro Estações, os músicos optaram por algo ainda mais melancólico. Renato chegaria a falar: "Bonfá me traz umas melodias dessas e eu que levo fama de ser deprê". Acabou sendo o disco que Marcelo e Renato mais gostaram. Era ao mesmo tempo conceitual, político e pessoal. Propositalmente lento, foi concebido para causar estranheza. O poeta pretendia escrever letras que não fossem perenes, fossem atemporais como versos de Pessoa ou Drummond. Metal Contra as Nuvens era uma das melhores letras de Renato. Tratava desde Fernando Collor (Quase acreditei em suas promessas) ao homossexualismo e Aids (É a verdade o que assombra / O descaso o que condena / A estupidez o que destrói). Foi o disco mais erudito também. Citações de escritores como o português Nuno Fernandes Torneol, do século XIII, e o alemão Johann Pachelbel, do século XVII, estavam lá. Tinha também a música O Mundo Anda Tão Complicado, tema de vários amores pelo Brasil afora, que se tornou a mais pedida em shows. Sem esquecer do Vento no Litoral (O plano era ficarmos bem).
Em agosto de 1992, o grupo voltou para a estrada. As letras permitiram que os shows ficassem ainda mais míticos. Mas o clima na banda não era dos melhores. Novamente, Renato entrava numa fase perigosa, alertaria Dado. A convivência foi se tornando exaustiva. Renato, já sabendo que era soro positivo, continuava usando drogas e bebendo. Junto com a hora do show, chegava a ressaca. Não raro, se assustava tanto com os efeitos do porre que achava que iria morrer. Renato, que desprezava os aplausos da mídia e dos fãs enquanto o astro se auto destruía (como James Joplin, Kurt Cobain e Jimmy Hendrix), flertava perigosamente com a morte. Certa manhã, chegou à piscina do hotel onde estavam hospedados no Rio Grande do Norte e perguntou por Dado e Bonfá. Fez um escândalo quando soube que ambos haviam saído para conhecer as praias com suas famílias. "Só eu que me interesso pelo trabalho? Então vamos embora". E foi encerrada a turnê. Na volta, Renato decidiu se cuidar. Pensava em si mesmo e na imagem que iria deixar para o filho Giuliano.
Passou a tomar AZT, para retardar o aparecimento dos sintomas da doença. Os efeitos colaterais descreveria como "um cachorro vivo que vai me comendo por dentro". Freqüentou as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Passou três meses internado em uma clínica para toxicômanos. Este tipo de tratamento demonstrava uma grande humildade, elogiaria Rafael. Os trabalhos musicais seguintes não tiveram uma boa recepção do público. Tanto Descobrimento do Brasil (1993), quanto The Stonewall Celebration Concert (1994), seu primeiro disco solo, ficaram no ostracismo.
A depressão voltava a assombrá-lo. Contudo, trabalhava como um louco. Os demais integrantes da banda já haviam percebido que o macete era mantê-lo ocupado, Renato também.
Na noite de 14 de janeiro de 1995, a Legião se apresentava em uma danceteria de Santos, quando uma lata de cerveja acertou o vocalista. Renato passou então 45 minutos cantando deitado no chão do palco. A platéia só o via quando levantava o braço para olhar o relógio de pulso e ver que horas eram. A temperatura esquentou. Quando aquilo acabou, todos estavam convictos de que nunca mais haveria um show do Legião Urbana.
Em meados de 1995, Renato, que tinha ido à Itália colher material para o seu novo disco solo, voltou a ficar depressivo e a se apoiar na bebida. Porém, começou a gravar o álbum. Havia dias em que ele apenas passava pelo estúdio, dava as coordenadas e ia embora. Contraditoriamente, o disco foi o mais tranqüilo já produzido até então. Todo em italiano, tinha um título que autobiografava o momento do cantor: Equilíbrio Distante. A Aids aos poucos avançava e Renato, que lia muito sobre o assunto, tinha plena consciência do que estava lhe acontecendo.
Em janeiro de 1996, a Legião Urbana voltava ao estúdio para registrar aquele que seria seu último disco, ou melhor, seus últimos discos. O material produzido era suficiente para dois CDs. Surgia assim A Tempestade e Outra Estação. Letras como A Via Láctea e Clarisse expunham de forma inédita a vida do autor. Havia dúvidas de até onde deveriam ir. Por isso, em respeito aos fãs, algumas músicas ficaram de fora. Renato, na verdade, não tinha condições de estar freqüentemente nas gravações, mas acompanhava o processo por telefone. Já estava muito magro e sem forças. Registrou quase tudo de primeira em gravações comoventes. Quando cantou "Hoje a tristeza não é passageira / Hoje fiquei com febre a tarde inteira", não usava metáforas.
Diante de tudo, apenas fica a dúvida, se podemos considerar Renato Russo um gótico obscuro dos anos 90 ou simplesmente uma alma melancólica, buscando alcançar o que, talvez, nunca soube ao certo. Mas isso, só ele poderia nos dizer...

A DISCUSSÃO É INÚTIL

“Se o adversário é inferior a ti, porque brigar;
Se o adversário é superior a ti, porque brigar;
Se o adversário é igual a ti, compreenderá o que tu compreende;
Então... não precisará haver luta.”

Todos os debates são inúteis, o próprio debater é uma idiotice, ninguém pode atingir a verdade pela discussão. Todas as discussões são uma grande perda de tempo, porque provocam um clima no qual qualquer entendimento entre duas ou mais pessoas se torna insuportável, onde qualquer coisa dita é sempre mal interpretada. Uma mente que está disposta a vencer, a conquistar, não consegue compreender nada. Isso é impossível porque a compreensão necessita de uma mente tranqüila e não violenta. E quando você está lutando pela vitória, você tem, obrigatoriamente, que ser violento.

Discutir é um ato de violência. Através dele você pode até matar, mas nunca ressuscitar. Através dele você pode até aleijar, mas nunca curar. Através dele a verdade, pode ser assassinada, mas nunca recuperada. O debate é sempre violento. Nele, sua própria atitude é sempre violenta. Na verdade você não está em busca da verdade, está em busca da vitória, seja por uma argumentação mais lógica, por uma erudição maior, ou ainda pela força física ou status. Quando a vitória é a meta, a verdade é sacrificada. Quando a verdade é a meta, você pode sacrificar a vitória.

Apenas a verdade pode ser a meta; a vitória não. Quando a vitória é a meta você se torna um político. Você fica agressivo, está sempre tentando vencer o outro, esta sempre tentando dominar e tiranizar de todos os modos possíveis. A verdade não pode nunca se transformar em dominação, não pode nunca destruir.

A verdade não pode ser uma vitória, quando essa abstrata vitória significa derrotar alguém. A verdade trás humildade, modéstia. Não uma viagem em prol de sua vaidade, de seu orgulho, do seu ego, como o são todas as brigas. A briga nunca conduz ao real; sempre caminha para o ilusório, para o não verdadeiro, porque a própria sensação de vitória é estúpida! Verdade significa nem “eu” nem “você”, na discussão, ou eu venço ou você vence; a verdade mesmo nunca é vencedora.

Aqueles que estão realmente na busca permitem que a verdade vença a ambos, enquanto que os competidores esperam que a vitória pertença apenas a si mesmos, não aos outros. Entretanto, os outros não existem. Na “verdade” nós nos encontramos e nos tornamos “um”. Assim quem pode ser o vencedor? Quem pode ser o vencido? Na realidade ninguém é vencido ou vencedor.

Como você pode entender o seu oponente se você está contra ele? O entendimento é impossível. O entendimento necessita de simpatia, de participação, de calma, de serenidade. Entender significa ouvir o outro totalmente. Ao discutir, debater, argumentar, racionalizar, você não ouve o outro, apenas finge ouvir e, interiormente, fica se preparando. Por dentro, você está se armando para a próxima jogada pronto para rebater, quando o outro parar.

Na briga a verdade não é significativa. Por isso a comunhão nunca acontece; você pode argumentar, e quanto mais argumentar, mais se separará do outro. Quanto mais discutir, maior será a separação, até tornar-se um enorme abismo.

Verdade significa simpatia; verdade significa não argumentar. Você veio para ouvir, para buscar a verdade, não para discutir, você veio para entender, não para vencer. Você não veio para ganhar, pelo contrário está pronto para perder.

Pela lógica, pela argumentação, pelo conhecimento, as pessoas tornam-se alheias uma as outras, tornam-se estranhos. Como você pode achar a verdade se não consegue entender o oponente, se não é capaz de nem mesmo ouvi-lo, se a sua mente por dentro, continua brigando, discutindo? Você é violento e essa agressão não o ajudará. Todas as brigas são fúteis, nunca levam a nada.

Quando você vence com a verdade, seu oponente não é derrotado, a verdade foi quem venceu, e o outro fica feliz. Ele se sente vitorioso com sua vitória, ele participa. Está não é uma vitória sua, a verdade venceu e, ambos podem celebrar. Mas quando você derrota uma pessoa, ela nunca é vencida. Permanece inimiga. No íntimo, fica esperando pelo momento certo de reivindicar seus direitos, de correr atrás do prejuízo.

A menos que você se unifique com a vida, nunca poderá conhecer a verdade. A unificação com a vida só acontece dentro de você. Não existe nenhuma maneira de conhece-la do lado de fora. Você pode andar o mundo todo, rodar de um lado para o outro, mas nunca descobrirá a verdade. Ela está dentro e não fora.

A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolve-la, não a compreenderá. A porta da verdade está aberta, nunca esteve fechada. Se a porta estivesse fechada, os cientistas, os políticos e os brigões de plantão encontrariam uma maneira de fabricar a chave.

A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido, hoje aqui e agora. Nenhum tipo de briga pode ser de alguma ajuda; nem com os outros nem consigo próprio.

Quando você procura briga, você a encontra. Mesmo que ninguém o insulte, mesmo que ninguém queira brigar, você a encontra. Então não as procure, caso contrário as encontrará em todo lugar que vá. Por exemplo: De repente alguém ri, não de você, quem afinal é você? Por que você pensa que tudo é com você? Você apenas está apenas passando e, então alguém ri; logo você pensa que estão rindo de você. Porque de você? Quem você pensa que é? Você é o ilustre quem? Se alguém ri, está rindo de você? Alguém xinga, está xingando você? Alguém está com raiva, está com raiva de você? Ora! Tenha paciência, se toca, você não é tão importante assim.

Toda essa paranóia está dentro de você. Você é que é brigão, violento, prepotente, presunçoso e arrogante. Você não pode criar a arrogância, se ela não estiver lá dentro. Você não pode botar para fora a prepotência se ela não estiver lá dentro. Quando se vira um copo o que está dentro cai. Quando alguém ri você pensa que é de você. Você é o problema não aquele que ri. Você é que está carregando a raiva, ele é a penas o pretexto, se não for ele será outro, qualquer outro. Ninguém lhe faz nada, você é que se faz. É a sua história interna, o conteúdo do seu copo, que sai para fora. É o transbordar do que você está cheio.

Uma semente cai no solo, germina, e uma árvore começa a crescer. O solo, o ar, a água o sol estão dando a oportunidade. Mas a árvore já estava escondida na semente. Você carrega a árvore inteira dentro de você e, os outros apenas lhe dão a oportunidade de germinar. Agora se sua árvore é um cactus todo retorcido, feio, cabeludo, cheio de espinhos venenosos, ou uma linda flor que a todos encanta e conquista, depende do que tem dentro de você.

Quando algo acontecer, não olhe para fora, não ache que a culpa é dos outros, olhe para dentro, porque seja lá o que esteja acontecendo, tem a ver com você, somente com você, ninguém tem nada com isso. Não se esqueça que a rudeza, a dureza, a grossura e a ignorância sempre perdem, tanto que os dentes caem e a língua fica.

“Na história da teimosia, entre a rudeza e a arrogância,
É tão forte a ignorância, tão cruenta, tão mordaz,
Que a própria sabedoria de tudo sabendo tanto,
Não pode saber de quanto o ignorante é capaz”

Lembre-se do ditado: “Quando o arqueiro erra o alvo, não procura o defeito na flecha, no arco, no vento ou no alvo, procura o defeito em si próprio”.

“Realmente vitorioso não é quem vence em batalhas milhares de homens, mas sim, quem a si mesmo vence.” Dhammapada - ves. 103 - Séc. lll a.C.

Desejo que todas as coisas boas fluam para vocês, que os perigos não os alcancem, que nenhum mal os atinja, que todos possam ser felizes, saudáveis e com longa vida.

Na paz de Budha

A Ética e o Significado da Vida


“Era uma vez um homem que queria ouro. Ao amanhecer, colocou o seu chapéu e seu casaco e se dirigiu para o mercado. Foi até à loja de um mercador de ouro, pegou o seu ouro e fugiu. A polícia o pegou e lhe perguntou, "Por que você roubou o ouro de outra pessoa na frente de tantas pessoas?" O homem respondeu, "No momento em que o peguei, não vi as pessoas - vi apenas o ouro."

A felicidade é inacreditável e parece quase impossível. Parece que o homem não pode ser feliz. Se você fala sobre a sua depressão, tristeza, miséria, todo mundo acredita nelas. Parece natural. Se você fala sobre sua felicidade, ninguém acredita, parece não natural.

Sigmund Freud, depois de 40 anos de pesquisa sobre a mente humana, trabalhando com milhares de pessoas, observando milhares de mentes perturbadas, chegou à conclusão de que a felicidade é uma ficção: o homem não pode ser feliz. No máximo, podemos tornar as coisas um pouco mais confortáveis, isso é tudo, podemos tornar a infelicidade um pouco menor, isso é tudo. Um homem feliz não pode existir? Parece muito pessimista, olhando para o homem moderno, parece ser exatamente o caso, parece ser um fato.

Budha diz que o homem pode ser feliz, tremendamente feliz. Krishna canta canções dessa derradeira felicidade (satchitanand). Jesus fala sobre a felicidade permanente no Reino de Deus.

Hum! como acreditar em tão poucas pessoas, contra toda a massa, milhões e milhões de pessoas através dos séculos, permanecendo infelizes, crescendo mais e mais em direção à infelicidade, toda a sua vida sendo uma estória de miséria e nada mais? E finalmente, a decrepitude e morte! Como acreditar nessas poucas pessoas que afirmam que a felicidade existe?

Ou elas estão mentindo ou estão enganando a si mesmas. Ou mentem por algum outro propósito ou estão doidas varridas (me desculpe, todo zen budista é assim mesmo) enganadas pelas próprias ilusões e desvarios. Estão vivendo num estado de querer preencher os seus desejos. Elas queriam ser felizes a todo custo e começaram a acreditar que eram. Parece mais como uma crença, uma crença desesperada, ao invés de um fato. Tudo bem! Está certo, mas eu pergunto? Como veio a acontecer que apenas poucas pessoas se tornaram felizes?

Se você se esquece do homem, se não presta muita atenção ao homem, então Buda, Krishna, Cristo, Mahavira, Láo Tse parecerão mais verdadeiros. Se você parar com sua faina diária e olhar para as árvores, olhar para os pássaros, olhar para as estrelas, para o mar, para os rios, então perceberá claramente que tudo está vibrando com tremenda alegria, está tudo vivo e feliz. E você, dando vazão a sua mente condicionada, me perguntará: Então a felicidade é “feita” da própria matéria com a qual a existência é feita, tudo na natureza é só alegria e felicidade ? Somente o homem é infeliz.

Certamente, alguma coisa de muito errado aconteceu lá dentro dos homens, no seu íntimo, Budha e os outros Mestres não estavam enganados e não mentiram. E digo isso, não com a autoridade da tradição budista que tenho a honra de praticar; digo isso com a minha própria experiência. O homem pode ser feliz, mais feliz que os pássaros, mais feliz do que as árvores, mais feliz do que as estrelas porque o homem tem algo que nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhuma estrela tem. O homem tem consciência e livre arbítrio!

Entretanto, quando se tem consciência, duas alternativas são possíveis: você pode se tornar infeliz ou pode se tornar feliz. Você tem o livre arbítrio, pode escolher! As árvores simplesmente são felizes porque elas não podem ser infelizes. A felicidade delas não é liberdade de escolha delas, elas têm de ser felizes. Elas não sabem como ser infelizes; elas não tem alternativa. Esses pássaros cantando nas árvores, eles são felizes! Não porque tenham escolhido ser felizes, eles estão simplesmente felizes porque não conhecem outra maneira de ser. A felicidade deles é inconsciente. É simplesmente natural.

O homem pode ser tremendamente feliz ou tremendamente infeliz, e ele é livre para escolher. Essa liberdade é arriscada. Essa liberdade é muito perigosa, porque você se torna responsável (lembrei-me do Pequeno Príncipe de Exupéry). E alguma coisa aconteceu com essa liberdade, alguma coisa aconteceu de errado. O homem está, de certa forma, de cabeça para baixo.

Pessoas chegam ao San Zen Dojo buscando a meditação, buscando a calma, a tranqüilidade, a eqüanimidade, em suma procurando a alegria perdida. A meditação é necessária apenas porque você escolheu não ser feliz. Se você tivesse escolhido ser feliz, não haveria necessidade de nenhuma meditação, de nenhuma religião. A religião é como um remédio, a gente só toma se estiver doente. Se você está doente, então um antibiótico é necessário, ou então uma sessão de acupuntura. Uma vez que você tenha começado a escolher a felicidade, uma vez que tenha decidido que você tem de ser feliz, então nenhuma meditação é necessária. A meditação começa a acontecer por si mesma. A meditação é uma função do estar feliz. A meditação acompanha um homem feliz como uma sombra: onde quer que ele vá, seja lá o que estiver fazendo, ele está meditativo. Ele está intensamente con centrado. A palavra "meditação" e a palavra "medicina" vêm da mesma raiz. Você não carrega frascos de remédios e receitas com você se está saudável.

Existem tantas religiões por aí porque a cada dia mais pessoas estão infelizes. Uma pessoa feliz não precisa de religião; uma pessoa feliz não precisa de templo, de igreja, de médicos, porque para uma pessoa feliz, todo o universo é um templo, toda a existência é uma igreja, essa pessoa não fica doente porque seu corpo e mente funcionam perfeitamente e, partindo do princípio de que tudo tem seu oposto, se o corpo tem a doença, também tem a cura. A pessoa feliz não efetua nada que se pareça com uma atividade religiosa porque toda a sua vida é religiosa, é sagrada.

Seja lá o que você fizer com felicidade, é uma oração: o seu trabalho se torna uma devoção, o simples fato de atender um paciente e diminuir seu sofrimento é uma verdadeira benção; a sua própria respiração tem um intenso esplendor, uma graça. Não precisa ficar o tempo todo repetindo o nome de Deus, somente os incultos fazem isso. Deus não tem nome, é o inominável e repetindo algum suposto nome você simplesmente anestesia a sua mente. Você não vai a lugar algum repetindo o seu santo nome. Um homem feliz simplesmente “vê” que Deus está em todo lugar. Você precisa apenas de olhos felizes para enxergá-lo. Mas, infelizmente não é assim que acontece, não é isso que se observa. Afinal, o que aconteceu de errado?

Você foi criado por pessoas que ainda não chegaram lá. Você foi criado por pessoas que não eram felizes. Sinta pena delas! Não estou dizendo para ser contra elas; não as estou condenando. Apenas sinta compaixão por elas. Os pais, os professores da escola, os professores da universidade, os assim chamados líderes da sociedade, eram pessoas infelizes. Eles criaram um padrão de infelicidade latente em você. E você ainda não assumiu a sua vida. Eles vivenciavam uma má interpretação da vida, essa era a miséria deles. E você também está vivendo sob esta mesma má interpretação.

Na época do Império Britânico na Índia, um jovem subalterno viajou a uma parte distante do Punjab para se juntar ao seu primeiro regimento. Ele se apresentou ao coronel que lhe deu boas vindas e disse, "Você tem de compreender, Skiffington Smythe, que precisamos de um tipo de oficial muito especial por aqui. Alguém que possa lidar com os nativos, alguém que possa pensar por si mesmo e manter-se frio numa situação difícil. Assim, criamos um pequeno teste que exigimos que os novos oficiais o façam. Você está pronto para tentar?"

"Certamente, senhor," disse o bravo jovem oficial britânico, todo empertigado.

"Muito bom," respondeu o coronel. O teste é bem simples, divide-se em duas partes: antes de mais nada, você tem de ir até o mercado da cidade, onde pegará a primeira mulher que vir, irá rasgar o seu véu e beijá-la bem nos lábios (eles estavam na Índia). Esse é um procedimento bastante perigoso já que os homens aqui são muito ciumentos, violentos e portam facas o tempo todo. Você tem que beijar essa mulher e, naturalmente, escapar com vida. Depois, tem de ir até à selva fechada e atirar no primeiro tigre que enxergar, o tiro tem que ser bem entre os olhos. Entendeu tudo?"

"Sim, senhor," respondeu o subalterno.

E com isso, o coronel deu ao jovem oficial um rifle com apenas uma bala. O bravo jovem fez a saudação, girou sobre seus calcanhares e se foi.

Uma semana mais tarde, o coronel ouviu um arranhar na sua porta. Ele gritou para quem estivesse ali para entrar: a porta se abriu e uma figura caiu sobre o tapete de entrada. Era Skiffington Smythe, o jovem oficial!

Esfolado, quebrado, cheio de pêlos e sangrando em pelo menos uma dúzia de ferimentos, se arrastou pelo chão, ergueu-se dolorosa e dificilmente sobre seus pés até a mesa do coronel, fez uma saudação fraca e titubeante e disse:

"Tudo bem, senhor... a metade da tarefa eu já cumpri, agora onde está essa mulher que eu tenho que atirar bem entre os olhos ... ?!"

Quando olho para a humanidade, para meus alunos do centro zen, para meus pacientes, para os amigos, para os meus parentes, vejo o mesmo problema. Alguma coisa profundamente errada aconteceu. Todos compreenderam mal as instruções, não leram a bula, e as instruções pareciam tão claras.

“Era uma vez um homem em chi que queria ouro. ao amanhecer, colocou o seu chapéu e seu casaco e se dirigiu para o mercado. foi até à loja de um mercador de ouro, pegou o seu ouro e fugiu. a polícia o pegou e lhe perguntou: - Por que você roubou o ouro de outra pessoa na frente de tantas pessoas? O o homem respondeu: - No momento em que o peguei, não vi as pessoas, vi apenas o ouro."

É uma parábola. Ela diz: "Se você sabe exatamente o que quer, vê apenas isso. A concentração acontece facilmente. Se você sabe exatamente o que quer, então toda a vida e todo o mundo acontece dessa maneira, você nem sequer os vê. Você vai como uma flecha. Você não fica distraído. Mas se você não sabe qual o significado de estar aqui, se você não sabe qual é a razão da sua vida, se você não sabe o que realmente quer, então tudo é uma distração, você é puxado nessa e naquela direção, e isso acaba criando muita confusão mental.

Você é puxado em tantas direções ao mesmo tempo que a sua personalidade fica quebrada, dividida. Somente fragmentos: um fragmento vai para o norte, outro fragmento vai para o sul. Você está continuamente em conflito. Não sabe onde está indo porque você não é mais “um”. Você só se torna “uno” quando sabe o que quer. Desse modo é óbvio que a sua vida não pode ter uma unidade orgânica em si. Você não tem nenhum senso de direção. Mas nunca é tarde demais. Você pode tomar posse da sua vida a qualquer momento. Se você decidir, então a primeira coisa a fazer é: não ouça a voz dos seus parentes dentro de você, não ouça a voz dos seus professores dentro de você, não preste atenção em nenhuma voz em especial. Apenas, sente-se, feche os olhos e tente sentir: seja lá o que você queira, o que você precisa, o que vo cê deseja, é seu mesmo? te pertence realmente? Aquele querer, aquele desejo, aquela necessidade. Tente descobrir, tente conferir a quem pertence essa voz, a quem pertence esse querer.

Se você escutar silenciosamente, se surpreenderá: Sua mãe estará dizendo, "Torne-se um médico!" E você será capaz de perceber exatamente quem está dizendo isso. Seu pai estará falando, "Fique rico!" O seu irmão estará dizendo, “Compre-me um carro”, seus professores, “Estudem para a prova, façam o trabalho!”, seus vizinhos estarão dizendo outras coisas mais malucas ainda. E não apenas isso: Eles estarão dizendo alguma coisa com seus lábios e uma outra coisa com os seus olhos; dizendo uma coisa, significando outra.

Alguém lhe diz, "Seja honesto, seja verdadeiro!" e você sabe que ele mesmo não é honesto e não é verdadeiro, você pode ver isso nos seus olhos, não no som que sai de sua boca. Se olharmos com calma, serenidade e desapego, poderemos ver muito profundamente, poderemos penetrar e “enxergar” a mentira.

Coisas são ensinada na escola, mas a vida é muito dinâmica, tem outras necessidades. Surge a confusão, o conflito. As contradições vão se acumulando e elas o puxam em diferentes direções. Assim, você não está mais unido, “uno”, a sua unidade é perdida. Você é uma multidão, uma multidão louca e desorientada.

Tem que se desprogramar, compreenda isso. Aquilo que você aprendeu errado pode ser desaprendido. O que você aprendeu com os outros não é natural para você: você pode apagar isso. Apenas uma pequena consciência é necessária. Então a primeira coisa é apagar tudo o que foi incutido incorretamente em você e somente então você será capaz de escutar a voz do seu próprio coração novamente.

Mas, como distinguir o que é o quê, o que é a voz da mente e o que é a voz do coração? Por enquanto é difícil distinguir: primeiro você tem de limpar a mente dos erros. A voz do coração é muito silenciosa e muito pequena. A da mente é muito barulhenta: ela continua a gritar coisas. O coração sussurra. A mente grita.

Seus pais gritavam com você, seus professores na escola gritavam com você, todos gritam muito, falam muito alto. A mente grita. Deus fala em sussurros. Primeiro o seu grito tem de ser cessado, do contrário, é muito difícil... a voz que você ouve o dia inteiro não é sua, não é do seu próprio coração.

Uma coisa é certa: você não pode jamais se tornar outra coisa que não seja você mesmo, e a menos que se torne você mesmo, você não pode ser feliz. A felicidade acontece apenas quando uma roseira faz crescer rosas; quando ela floresce, quando tem a sua própria individualidade. Você nunca poderá ser uma roseira tentando produzir flores de lótus, isso é criar infelicidade.

Apague esse grito na mente. E a maneira de fazer isso não é com luta: a maneira de apagá-lo é apenas tornar-se ciente. Todas as noites, por alguns minutos, sente-se na sua cama e apenas observe de onde você ouve alguma coisa, simplesmente vá até às raízes das vozes. Siga a trilha, vá para trás, encontre o lugar de onde isso vem.

Se procurar, você encontra a fonte, e no momento em que encontrá-la, sentirá um grande alívio. É um trabalho lento, mas se você trabalhar com afinco, dentro de pouco tempo, se sentirá muito limpo. O seu “livro” está limpo, ninguém mais está escrevendo nele. Então, somente então, você será capaz de ouvir aquela pequena “voz silenciosa”. E uma vez que a escute, o próprio escutar é como um trovão repentino. De repente, você está unido, de repente você tem uma direção, de repente você sabe onde está o seu ouro. E então você não vê ninguém, você simplesmente vai como uma flecha em direção ao seu destino.

É muito fácil seguir seus pais, é muito fácil seguir seus professores, é muito fácil seguir a Budha, a Cristo, é muito fácil seguir a sociedade, é muito fácil ser obediente. Agora ser rebelde, questionar, estar por si mesmo, é muito difícil. Mas o crescimento e a felicidade só vem com o caminho difícil.

Era uma vez um fazendeiro que, depois de uma colheita pobre, reclamou: "Se Deus me deixasse controlar o tempo, tudo seria melhor porque, pelo visto, Deus não sabe muita coisa sobre agricultura." Então o Senhor Deus lhe disse: "Por um ano, eu lhe darei o controle do tempo; peça o que desejar e você obterá." Naqueles tempos antigos, Deus costumava fazer isso, não tinha muita gente e ele ainda se permitia certos luxos. Depois ele se encheu de trabalho e, coitado não pode mais.

O pobre homem ficou muito feliz e imediatamente disse, "Agora eu quero Sol," e o Sol saiu. Mais tarde, ele disse, "Faça a chuva cair," e choveu. por todo um ano, primeiro o Sol brilhava e então chovia. As sementes cresceram e cresceram, era um prazer olhar. "Agora Deus pode entender como controlar o tempo," disse orgulhosamente. A colheita nunca foi tão grande, tão verde, um verde tão luxuriante.

Era época de colheita. O fazendeiro pegou sua foice para cortar o trigo mas que tristeza. As espigas estavam praticamente vazias. O Senhor veio e lhe perguntou, "Como está a sua colheita?" O homem reclamou, "Pobre, meu Senhor, muito pobre!" "Mas você não controlou o tempo? Tudo o que você queria não deu certo?" "É claro! E essa é a razão pela qual estou perplexo. Tive a chuva e a luz do Sol que pedi mas não há colheita." Então o Senhor disse, "Mas você nunca pediu vento, tempestades, gelo e neve, e tudo o que purifica o ar e torna as raízes duras e resistentes? Você pediu chuva e Sol, mas não tempo ruim. Essa é a razão porque não existe colheita."

A vida é possível apenas através de desafios. A vida é possível apenas quando você tem ambos, bom tempo e mau tempo, quando você tem ambos, quando você tem ambos, inverno e verão, dia e noite. Quando você tem ambos, tristeza e alegria, desconforto e conforto. A vida se move entre essas duas polaridades, Yin e Yang. Movendo-se entre essas duas polaridades, você aprende como ter equilíbrio ou usando um jargão médico, homeostase.

Se você escolhe o conforto, conveniência, a facilidade, escolhe a tristeza. Foi exatamente assim que você perdeu a felicidade: você escolheu a conveniência ao invés dela. É muito conveniente seguir a voz dos outros, mas assim você não cresce. Você está tentando obter os tesouros da vida de forma muito barata. É necessário que você pague por isso. Nunca tente obter algo sem pagar, simplesmente, não aceite, sinta-se insultado. Não aceite, isso está abaixo de você. Diga: "Eu pagarei por isso, somente então aceitarei." De fato, se algo lhe for dado sem estar pronto para isso, sem você ser capaz disso, sem estar receptivo para isso, você não será capaz de tê-lo por muito tempo. Você vai perde-lo, esquece-lo, logo, logo. Você não será capaz de apreciar o seu valor. A vida nunca lhe dará nada barato, porque s e for dado sem que haja esforço de sua parte, você não consegue aproveitar.

Escolha o caminho difícil. E ser um indivíduo é a coisa mais difícil no mundo porque ninguém quer que você seja um indivíduo. Todo mundo quer matar a sua individualidade e fazer de você uma ovelha medíocre. Ninguém quer que você esteja por si. Portanto, você continua a perder a felicidade, continua a perder a direção, não pode ser nada por mais de uma fração de segundo. Como pode ser bem-aventurado?

Escolha o seu próprio destino, ou Karma como lhe aprouver. Ninguém pode mostrá-lo para você. Qual é o seu destino/Karma, ninguém sabe, nem mesmo você. Você tem de senti-lo, vivê-lo.

Primeiro, abandone tudo o não seja seu, tudo que é emprestado no seu ser e então será capaz de sentir. Isso sempre o leva ao lugar certo, ao objetivo certo. A coisa que você chama de consciência exatamente agora não é a sua consciência, é um substituto, uma pseudo-consciência, falsa, imitada, limitada. Abandone-a! E no próprio abandonar, será capaz de enxergar, por trás dela, a sua consciência de verdade que tem lhe esperado, que está lhe aguardando. Uma vez que essa consciência surja para você, a sua vida tem uma direção. Para abandonar o que não é seu e, portanto não lhe pertence, apenas sente-se. Sente-se confortavelmente sem pensar em nada em especial, sem prestar atenção a nada que venha a sua mente, sem conceituar os pensamentos como bons, agradáveis ou neutros, apenas sente-se e não queira nada, não deseje nada, não tenha aversão a nada ne m espere nada. Sente-se apenas.

Sim, aquele homem estava certo. Ele disse: "no momento em que o peguei, não vi as pessoas - vi apenas o ouro." Quando você sentir o seu destino/Karma, você vê apenas o seu destino/Karma, você vê apenas o ouro.